Mais do que imperfeitos, os retratos que aqui deixo assemelham-se àqueles retratos à la minuta que se fazia antigamente, antes da era digital, para o bilhete de identidade ou para o passaporte: o resultado nunca era o que se esperava, e na verdade nunca fazia justiça ao retratado. Por isso, raramente eram guardados nos álbuns de fotografias. Porém, bons ou maus, eles traziam a marca do tempo - da tecnologia disponível e da arte do fotógrafo. Escritos entre 1984 e 2015, os textos que aqui se reúnem não foram pensados para um dia virem a integrar um livro: na verdade, eles foram escritos soltamente, e soltos foram sendo publicados ou de alguma maneira apresentados ao público - como recensões críticas em jornal, entrevistas, prefácios ou posfácios a livros, apresentações para catálogos de exposições, discursos formais e falas informais em actos de homenagem, elegias a amigos desaparecidos, votos parlamentares de pesar - com as diferenças de registo que as pessoas, os objectos e as circunstâncias, bem como o meu envolvimento afectivo e a minha própria maturidade, permitiram. |