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Construir navios havia sido, desde sempre, uma atividade regida pela mais inveterada empiria. O aparecimento das primeiras normas escritas nos textos italianos do século XV marca o princípio da época que poderíamos chamar das instruções técnicas, ou, como acontece no caso português, da tratadística, um período que vai, grosso modo, dos meados do século XV aos finais do XVII. As instruções técnicas mais ou menos extensas fornecem regras geométricas para a construção do casco do navio, embora não ainda de uma forma completa, como aconte­cerá com os tratados do século XVIII, que inauguram uma terceira fase, em que o estudo do navio contempla a geometrização total do seu desenho. A parte mais importante do navio passa a ser o seu desenho técnico, como perceberam desde logo os engenheiros cons­trutores navais.
O Livro da Fábrica das Naus é o primeiro exemplo europeu de um manual de construção naval exclusivamente dedicado a navios de alto bordo, ou seja, para a navegação oceânica, e, espe­cificamente neste caso, a navios da que se chamou depois tradição ibero-atlântica. [...] Apesar de inserir desenhos no Livro, Oliveira não alude à necessidade de planear o navio em desenho ou da construção prévia de um modelo. Em contrapartida, comporta aspetos de uma enorme importância que destacam o seu carácter único. Um deles é, sem dúvida, a parte inicial do texto, em que o autor fundamenta as condições do conhe­cimento. Trata-se do único autor de um tratado de construção naval deste período que ultrapassa o nível de consideração do que se sabe para discutir o como se sabe e o porquê. Um bom exemplo desta fundamentação teórica é a afirmação do postulado aristotélico de que a perfeição é um atributo divino que não cabe na dimensão do humano, logo, os homens não podem fazer navios perfeitos; mas, como Deus criou um animal com a forma perfeita para andar no mar – o peixe –, então a forma do casco dos navios deve imitar a forma do corpo dos peixes, ou seja, a forma perfeita para andar na água – hidrodinâmica, dir-se-ia hoje.